Mais de 30 famílias que permaneceram
nos condomínios por não terem para onde ir, tiveram que fazer a mudança para o
Ciep Porto do Rosa na manhã de ontem
Foto: Leonardo Ferraz
Durante 54 dias, os
ocupantes dos condomínios Parques Araras e Bem Te Vis, do programa Minha Casa
Minha Vida, acalentaram o sonho da casa própria e dias melhores. Mas, na manhã
de ontem, a realidade trouxe de volta as incertezas quanto ao futuro. Assim
como no dia da ocupação, em que uma forte chuva devastou São Gonçalo, a chuva
que caiu, na manhã de ontem, parecia repetir o “filme de terror”, que levou
todas as famílias ao local. Desta vez, ao invés de portões abertos, os
ocupantes se depararam com um forte esquema policial.
Homens da Polícia
Federal com apoio da Polícia Militar, auxiliados por veículos blindados e
helicóptero, montaram uma mega operação para a retirada das famílias. A ação
começou ainda de madrugada e só terminou na tarde de ontem. As famílias que não
tinham para onde ir, foram levadas ao Ciep do Portão do Rosa e para o Polo de
Assistência de Vista Alegre. Apesar do grande número de pessoas que viviam no
local, não houve resistência.
De acordo com o
comandante do 7º BPM (São Gonçalo), coronel Samir Vaz, a ação começou por volta
das 3h30, quando homens do 7º BPM (São Gonçalo) fizeram um “cinturão de
segurança” nas comunidades que cercam o empreendimento. Houve um pequeno
confronto na localidade do Mangue Seco, mas ninguém foi preso. “Para dar
segurança à ação, iniciamos a ocupação de toda a região ainda de madrugada.
Essa ação foi planejada para que ocorresse sem qualquer intercorrência”,
explicou o coronel.
Segundo o
comandante, participaram da ação homens do Batalhão de Choque, Grupamento
Aeromóvel, Batalhão de Policiamento de Grandes Eventos da Polícia Militar,
Comando de Polícia Pacificadora e do Comando de Polícia Ambiental, totalizando
600 homens.
Além destes, foram
empregados para a reintegração de posse 50 homens da Polícia Federal, Corpo de
Bombeiros e 18 oficiais de justiça, que conduziram a retirada das famílias.
Estiveram presentes, ainda, guardas municipais, Conselho Tutelar e Secretaria
de Desenvolvimento Social de São Gonçalo.
A assessoria de
imprensa da Prefeitura de São Gonçalo informou que 110 pessoas estão no Polo de
Assistência de Vista Alegre, incluindo uma família de Niterói e outra de Cabo
Frio. Para o Ciep foram levadas 260 pessoas. A assessoria ainda esclareceu que apenas
uma família procurou a Defesa Civil para solicitar laudo de interdição de
imóvel e outras 37 compareceram a um dos 19 Centros de Referência de
Assistência Social (Cras) para solicitar a inscrição no Cadastro Único para ter
acesso aos programas sociais do Governo Federal.
Famílias são
levadas para escola
Com o futuro
incerto, muitas famílias lamentaram deixar o empreendimento. Algumas pessoas,
inclusive, passaram mal e precisaram de atendimento do Corpo de Bombeiros.
Segundo uma das representantes, Oracina Vieira, a Naná, de 52 anos, a notícia
da desocupação chegou ainda durante a noite.
“Quem tinha casa e
estava se aproveitando da situação, saiu ainda durante a noite. Só ficou quem
realmente precisa. Não são poucas famílias que estão aqui. Todas elas só querem
uma oportunidade. Ninguém está pedindo nada de graça. Têm famílias aqui que
estão, há três anos, cadastradas em programas sociais. Vamos todos para um
abrigo até que a situação seja resolvida”, disse.
Muito nervosa, a
dona de casa Sandra Regina da Silva, de 34 anos, disse não sabe o que fazer.
“Tenho cinco filhos e estou desempregada. Como vou para um abrigo longe daqui?
Meus filhos são pequenos e precisam estudar. Eles estão matriculados em escolas
do Jóquei”, afirmou.
A dona de casa
Patrícia Reis, 37, contou que deixou sua casa porque ameaçava desabar. “Tudo o
que tenho são esses colchões que ganhei. Meu filho de cinco meses acabou de
sair da UTI. Por estar dormindo no chão, ele pegou pneumonia agravada por uma
anemia.Tenho medo do que vem pela frente”, lamentou.
Juliana da Silva
Ferreira, 21, chorou ao receber a notícia que deveria deixar o apartamento.
“Não tenho para onde ir. Nesta vida, só tenho meus dois filhos. Acreditei que
pudesse ficar nesse apartamento. Estou desesperada. Aqui eu me sentia
protegida. O que farei agora?”, questionou.
Sem poder andar,
Rosalia Pereira, 61, disse que esperava a chegada do neto para ser levada ao
abrigo. Moro com minhas filhas e meu neto. Tenho problemas nos rins e estou com
o fêmur quebrado. Não posso me locomover”, contou.
Para Jaqueline
Gomes Silva, 37, mãe de quatro filhos, uma delas com necessidades especiais, o
abrigo foi a única alternativa.
“Não tenho para
onde ir e precisei recorrer a esse abrigo. Se não fosse isso, dormiria na rua.
O pouco que tenho, ganhei. Apesar dos problemas, acredito que vou conseguir uma
casa”, afirmou.
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