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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O homem do ano – Jose Mariano Beltrame




O homem responsável pela segurança do Rio de Janeiro dá expediente no prédio da Central do Brasil, no centro da cidade, com a fachada suja e cheio de mendigos na porta. No gabinete localizado no 4º andar, José Mariano Beltrame recebeu a reportagem de ALFA numa tarde de sexta-feira ensolarada no início de novembro, vestido com um discreto terno marrom. Na entrevista exclusiva, o policial falou como a chegada ao Rio mudou para sempre sua vida. Ele desembarcou na cidade em 2003, quando foi convidado a chefiar um grupo de investigadores da Polícia Federal que atuava na cidade tentando desbaratar quadrilhas de traficantes de drogas e de armas. Na época, a vida pessoal de Beltrame também passava por um período de mudança. Estava recém-separado de seu primeiro casamento e chegou a morar dois anos na sede da Superintendência da PF, no centro do Rio.

“Era mais prático e eu gostava do meu serviço. Vivi o problema da criminalidade 24 horas por dia”, afirmou ele. Saiu-se tão bem na função que foi indicado, em 2006, ao governador Sérgio Cabral para ser o secretário de Segurança do Rio de Janeiro.

Na conversa com ALFA, ocorrida duas semanas antes dos maiores combates na história da cidade entre as forças policiais e os bandidos, Beltrame parecia pressentir os problemas. Ele encabeçou a equipe que colocou em prática a primeira tentativa séria de intervenção pública no problema da violência nos morros, com a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Implantado há dois anos, no primeiro mandato de Sérgio Cabral, o programa já criou 13 unidades, que garantem a ocupação de mais de 30 morros e favelas. Nessas áreas, além da instalação de postos permanentes de policiais articulados com as lideranças comunitárias, foram construídos escolas e centros de saúde. “Instalar uma UPP é como jogar água quente no formigueiro”, disse Beltrame. “Sabemos que, com a perda de territórios, os comandos dos bandidos estão se reorganizando para tentar uma reação.”

As previsões do secretário se concretizaram. A crise de segurança teve início, com os bandidos promovendo tiroteios, arrastões e queimas de ônibus na cidade. A polícia reagiu com uma ação ainda mais ousada, invadindo, com o auxílio de tanques da Marinha, uma das favelas mais perigosas da cidade, a da Vila Cruzeiro, onde os bandidos estavam concentrados. Na fase seguinte, as forças de segurança ocuparam o Complexo do Alemão. A operação de reconquista da Vila Cruzeiro, transmitida ao vivo durante horas pelas TVs, num clima de “Tropa de Elite 3”, chegou a ser comparada por comentaristas mais exagerados ao desembarque dos Aliados na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial. Somente na primeira semana de conflitos entre policiais e bandidos, 217 pessoas foram presas e 34 morreram.

No final de novembro, Beltrame estava novamente quase morando dentro do trabalho. No auge dos combates nos morros da cidade, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro já havia recebido 17 ameaças de morte e andava escoltado por 20 policiais. Fazia suas refeições no próprio gabinete e, para vê-lo, sua família — Beltrame se casou pela segunda vez e tem um filho de 1 ano de idade — era obrigada a se deslocar para lá. Nas entrevistas em que falou sobre os confrontos, o secretário sempre demonstrou clareza e firmeza. Essas características já haviam ficado claras no encontro com ALFA, quando ele comentou o sacrifício necessário para cumprir a missão que está em suas mãos. “O jogo contra os criminosos é difícil, mas vamos vencê-lo”, afirmou.

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