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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Rapaz morto chegou a inalar um botijão de gás a cada 2 dias achando que era droga






SÃO PAULO - Inalar gás de isqueiro e até gás de cozinha como droga está sendo alardeado por comunidades no Orkut e virando moda entre jovens, mas essas substâncias não são entorpecentes. São tóxicas. O alerta é do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e de médicos. Em julho do ano passado, o monitor de bufê Allan Ronnie Muraca, de 24 anos, morreu ao lado do botijão de gás.

Ele chegou a inalar um botijão inteiro de gás de cozinha a cada dois dias.
Allan começou cheirando gás de isqueiro, passou para o gás de buzina. Depois, para o gás hélio - usado para encher balões no bufê em que ele trabalhava. Por último, Allan passou a inalar gás de cozinha. Morreu, sozinho, dentro de casa, em São Bernardo do Campo, no ABC, em julho do ano passado.

A dor da mãe de Allan, a funcionária pública aposentada Suzana Cristina Muraca da Silva, de 44 anos, começou um ano antes de o filho morrer, quando ela descobriu que ele estava viciado em gás.

- Não desejo isso a ninguém. Perder o filho para um gás de cozinha é triste. É muito sofrimento.

Suzana conta que tentou internar o filho e chegou até a trancá-lo em casa para evitar que ele consumisse gás.
- Ele arrombou a porta e fugiu para a casa do avô, que fica no mesmo terreno, e foi direto para a cozinha cheirar gás - conta.

Como Allan não tinha plano de saúde, Suzana percorreu prontos-socorros em busca de psiquiatras e outros médicos.

- Todos diziam que o gás não causava nada de mais.

Quando inalava gás, Allan costumava desmaiar. Em seguida, acordava e dormia. Suzana conta que ele e uma namorada souberam do uso do gás no Orkut.

O médico toxicologista da Faculdade de Medicina da USP Anthony Wong afirma que a inalação do gás butano, presente nos isqueiros, provoca a falta de oxigênio no organismo. Ele utiliza uma explicação simples: onde entra o gás butano não entra o oxigênio.

- O butano não é considerado um entorpecente, uma droga. Não produz sensações de prazer momentâneo. O que os usuários do gás chamam de 'barato' é a falta de oxigênio. Por isso a inalação pode provocar asfixia, causando convulsões e morte. Com a inalação, a glote (garganta) fecha e não entra ar nos pulmões. A vítima fica agitada por conta da falta de oxigênio no cérebro - explica.

O médico da USP afirma que as pessoas que passam a inalar o gás do isqueiro podem desenvolver uma dependência psicológica, mas não uma dependência física.

- Não provoca uma dependência física, mas a pessoa pode se viciar no contexto, psicologicamente - afirma, acrescentando que não adianta proibir a venda do produto, pois não há como proibir ninguém de cometer suicídio.

A inalação do gás de isqueiro e de cozinha como droga "para dar barato" é amplamente divulgada entre jovens no site de relacionamento Orkut. Basta uma pesquisa para encontrar comunidades com nomes como "Eu baforo gás de isqueiro", "Eu cheiro gás de cozinha" e "Isqueiro sem gás, menino triste". Há, inclusive, instruções dadas a curiosos sobre como consumir o gás.

De acordo com a Polícia Civil, a simples divulgação na internet não pode ser considerada crime, já que a substância tóxica não é proibida e pode ser encontrada em qualquer lugar.

O delegado Rubens Barazal, do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil, diz que não há crime na divulgação do consumo do gás de isqueiro na internet.

- Não existe uma apologia ao crime. O gás é distribuído livremente. Essas pessoas estariam fazendo apologia se essa substância fosse considerada uma droga. Mas é só um gás tóxico - disse o delegado.

Na comunidade do Orkut chamada "Eu baforo gás de isqueiro", os 36 integrantes relatam a inalação do gás no tópico "As melhores brisas". Um deles conta que se lembra de que queimou o próprio nariz quando estava intoxicado. Outro diz que caiu no chão, bateu a cabeça e babou.

De forma irônica, a comunidade está registrada na categoria Esportes e Lazer, e tem 36 integrantes - a maioria tem até 24 anos e se identifica por apelidos. A página também conta com um tópico batizado de "AAAA Eu amo gás", cheio de recados para os outros membros e visitantes. Outra comunidade do Orkut, chamada "Eu cheiro gás de cozinha", com 17 integrantes, exibe a explicação de que a página foi criada "para aqueles que estão sempre viajando, sempre cheirando gás de cozinha".

O popular gás de buzina, muito vendido no Carnaval, e o hélio também são inalados por jovens como droga alternativa aos entorpecentes.

A jornalista Anita Ribeiro Motta, de 25 anos, morreu no ano passado após ter supostamente utilizado gás de buzina na noite de 19 de fevereiro do ano passado, uma segunda-feira de Carnaval, em Serra Negra, a 150 quilômetros da capital.

De acordo com informações da Polícia Civil da cidade, primos da vítima, que foram testemunhas do caso, afirmaram ter visto Anita pegar o tubo com gás de buzina, retirar a corneta que serve para a saída do som, ingerir o gás e cair no chão logo em seguida. A mulher chegou a ser socorrida para o hospital da cidade, mas já teria chegado morta ao local.

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