Em texto enviado com exclusividade ao blog REPÓRTER DE CRIME, o delegado Alexandre Neto, da Polícia Civil do Rio, denuncia que o esquema de corrupção montado pelo ex-chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins - ex-deputado cassado - continua "com a parcimônia dos comandos das polícias, que fingem não enxergar o óbvio". Neto, que escapou de atentado praticado por policiais militares em 2007, voltou a ser alvo de uma conspiração para matá-lo. O plano foi abortado pela Secretaria de Segurança. do Estado do Rio. Em 2006, Neto foi um dos poucos policiais que teve a coragem de denunciar à Polícia Federal o envolvimento de policiais civis e militares com a máfia dos caça-níqueis.
A íntegra da mensagem de Neto ao blog é a seguinte:
"Prezados Blogueiros,
Inicialmente, congratulo-me com a "muda", "Anhanguera", "OCombatente", "CANADEAÇÚCAR" [os "nicks" são usados por leitores e comentaristas deste blog] e outros que almejam uma polícia melhor e, de certa forma, me prestaram alguma solidariedade em razão da notícia veiculada pelo jornal “O Dia”. Nós, que pertencemos aos quadros da "força", sabemos que não basta a simples vontade política para mudar as polícias, sejam elas civil ou militar. A moral de quem comanda é imprescindível. E ela não é imposta a quem quer que seja pelo simples acesso ao cargo de comando a ser ocupado. Como diz um velho ditado popular, "tartaruga não sobe em poste. Se ela está lá foi porque alguém a colocou naquele lugar". A estrutura de corrupção montada pelo ex-chefe de polícia Álvaro lins e pelo ex-governador de nosso estado deixou tentáculos profundos nas organizações policiais. Foram 8 (oito) anos ininterruptos de corrupção, mortes e extorsões que envolveram agentes e autoridades totalmente descompromissadas com o interesse público.
Para eles prevalecia o interesse particular. Tudo isso acompanhado de perto pelo Ministério Público e pelo próprio Poder Judiciário estadual. Todo mundo sabia do extenso esquema de arrecadação montado, de cima para baixo, impunemente, dentro do estado. As Operações GLADIADOR, HURRICANE e SEGURANÇA PÚBLICA S/A, patrocinadas pela Polícia Federal e pelo MP Federal, deixaram patentes o envolvimento de policiais civis e militares com o crime organizado, além do sério comprometimento da própria cúpula estatal. As condenações impostas aos criminosos demonstraram isso.
A missão que se seguiu, imposta ao Dr. Beltrame, é árdua. Muito árdua. Ela requer paciência e estratégia, pois ninguém vai conseguir desmontar em 4 (quatro) anos um “esquemão” que foi montado em mais de 8 (oito) e, infelizmente, ainda perdura. E perdura com a parcimônia dos comandos das polícias, que fingem não enxergar o óbvio. Que ainda esperam pela iniciativa de outras Instituições para fazer a faxina em seus próprios quadros. Ninguém vai conseguir purificar almas que acreditaram na impunidade e lucraram – e ainda lucram - com ela. A missão é quase impossível, mas alguém tem que levá-la adiante, seja para o bem das polícias, seja para o bem da própria sociedade.
Sei dos riscos que enfrento, bem como outros colegas e o próprio secretário Beltrame. Somente um assassinato covarde poderá me silenciar. Mas não hesitarei em caminhar pra frente, sempre lutando por uma polícia judiciária independente, que não se submeta a caprichos de outros poderes ou se afigure refém dela mesma, diante dos péssimos quadros funcionais que surgem, patrocinados pelo crime organizado que perpassa o próprio estado. Isso indica que estamos no caminho certo. Essas chagas ainda abertas indicam que as polícias precisam de um tratamento sério e eficaz. Indicam que os bons policiais precisam ser valorizados, para que não sejam cooptados pela chamada “banda podre” e por aqueles que a patrocinam. Sob esse aspecto, a simples vontade política se mostra imprescindível."
Os responsáveis pela conspiração para matar o delegado já foram identificados e espera-se agora que a Secretaria de Segurança seja rigorosa no inquérito que vai levá-los à Justiça. Num momento em que toda a sociedade participa com entusiasmo do cerco do Estado ao crime organizado no Rio, não é possível admitir a hipótese que agentes da lei sejam alvos de represálias de criminosos por conta de uma conduta firme e irrepreensível no combate ao crime.
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