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sexta-feira, 15 de abril de 2011
Operação Blecaute desvenda estrutura de milícia
A milícia que teve três suspeitos presos na manhã desta quarta-feira (13), entre eles o vereador do município do Rio de Janeiro Luiz André Ferreira da Silva, o Deco (PR), durante a operação Blecaute da Polícia Civil e do Ministério Público, cobrava taxas de segurança de até R$ 100 de moradores de 13 comunidades do Rio de Janeiro.
De acordo com as investigações da Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado), taxas desse valor eram cobradas de comerciantes. Já os moradores, além da segurança privada imposta pelos milicianos, pagavam também R$ 10 pelo fornecimento de água, R$ 30 pela TV por assinatura clandestina e sinal de internet e até 20% do valor de cada imóvel negociado nas comunidades dominadas pelo grupo.
Como toda milícia, o grupo também cobrava taxas pelo transporte alternativo, diz a polícia. De acordo com o Ministério Público, cada moto-taxista era obrigado a pagar R$ 30 a cada 15 dias. Também eram exploradas a venda de gás e o funcionamento de máquinas caça-níqueis.
Tiros e facões
A polícia aguarda, no entanto, a análise dos documentos apreendidos para saber quanto o grupo faturava por mês. Na casa de um dos cinco suspeitos que continuam foragidos, os agentes encontraram um cofre e R$ 60.918. Outros seis milicianos denunciados por homicídio, que fazem parte de outra milícia, também não foram encontrados e são considerados foragidos.
De acordo com a denúncia do MP, “a quadrilha tornou rotineira a eliminação daqueles que não se submetem às regras impostas, usuários de drogas, testemunhas de seus delitos e delinquentes rivais”. A denúncia informa ainda que a milícia tinha uma “lista negra”, na qual listava mensalmente os nomes de quem deveria morrer. A polícia não soube informar, no entanto, quantas pessoas foram mortas pelo grupo.
O delegado Alexandre Capote, da Draco, disse que a milícia usava de método cruel para eliminar seus desafetos. A forma mais comum, segundo o policial, era amarrar as mãos das vítimas, que também eram amordaçadas, esfaqueadas e, depois, mortas a tiros. Os corpos também seriam escondidos.
Na casa de Deco, com sistema de câmeras de segurança e cerca elétrica, no Pechincha, em Jacarepaguá, foram encontrados dois facões. Cordas também foram apreendidas durante a operação. A polícia diz acreditar que o material seja usado em crimes.
Ainda segundo a polícia, as ações da quadrilha eram coordenadas por duas associações de moradores: a do conjunto Ipase, na Praça Seca, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, e da favela da Chacrinha. O presidente da associação do Ipase, conhecido como Bequinho, é um dos presos. Ele é apontado como chefe da segurança da milícia.
Já a presidente da Associação de Moradores da Chacrinha, que também teve a prisão decretada pela Justiça, está entre as cinco pessoas foragidas. Ela é a única mulher denunciada pelo MP. A polícia investiga também se o vereador Deco usava seu gabinete na Câmara dos Vereadores como uma espécie de escritório da milícia. Documentos foram apreendidos no local.
Um outro preso é conhecido como Arílson Cabeção e seria o armeiro do grupo, aquele responsável pela manutenção das armas. Apesar da denúncia por quadrilha armada, Deco também é suspeito de participação em homicídios e crimes eleitorais, como compra de votos e coação.
Na casa do vereador, também foram presos dois computadores, CDs e pen drives, arquivos portáteis de computador. Deco, que já foi paraquedista do Exército, nega as acusações e alega que sua prisão tem motivação política.
O grupo também é suspeito de ter planejado a morte da atual chefe de Polícia Civil, a delegada Martha Rocha, quando ela era titular da Delegacia de Campinho (28ª DP), do deputado estadual Marcelo Freixo, autor da CPI das Milícias, além de uma vereadora que não teve o nome revelado.
As favelas dominadas pelos milicianos ligados a Deco e outros seis suspeitos que tiveram a prisão decretada por homicídio dominam as comunidades Bateau Mouche, Mato Alto, Conjunto Ipase, Bela Vista, Divino, Barão, Campinho, Chacrinha, Caixa D’água, Covanca, Quintino, morro do Fubá e São José Operário, nas zonas oeste e norte do Rio.
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